domingo, 22 de fevereiro de 2015

Esmeralda

Seus olhos eram profundos e tragavam o mundo, como apetece aos poetas. Perto das pupilas eram como lareira, ardiam indagações e respostas e segredos, um brilho pálido amarelado, mas intrigante como céu noturno estrelado. Mais pra longe eram mais claros, traziam consigo um vazio pungente, um silêncio estrelado. Silêncio dentro de silêncio. O brilho verde esmeralda das bordas era cortante como vidro. Grande e vivo. De brilho alto, tão alto como uma mulher alta na ponta dos pés. Sua expressão era austera. Séria. Eu diria que seu sorriso escondido era guardião de razões e motivos. Ele raramente se mostrava, e o olhar rígido dela podia cortar e assustar os pobres de espirito. Mas caso ela quisesse, como a calmaria que sucede a ressaca do mar revolto, poderia desfazer corações de pedra. E esses seres capazes de desfazer corações de pedra são no minimo perigosos. Sob o céu noturno seus cabelos negros se perdiam. Eram austeros, feito carvão, risonhos feito chocolate, serenos como as águas lisas de um rio. Gostavam de brincar ao sabor do vento feito brasa de fogueira, e rodopiantes jogavam-se sobre a sua boca. A boca era a guardiã do sorriso. A guardiã do guardião. Ela era brilho, feito maçã corada, e poesia e desejo e um sonho de verão. Era fada, emoldurada. Rainha coroada. Plebeia de roupa enlameada e fina dama num vestido longo. Era um incógnita e uma interrogação. Uma poesia sutil. Uma prosa feroz. Um desejo ardente. Mas só um desejo.

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