Ela era vinho e poesia, mas sabia ser tempestade e tequila. Quando cansava-se da sobriedade, ele vertia uma taça dela e se perdia. Os olhos nitidamente se encontravam na meia luz e, ora, são os olhos as janelas da alma e as sombras de seus corpos projetadas na parede as portas pra embriaguez plena. Ela gostava da sensação de perder e o controle, e a perdia mais por ele do que propriamente pela bebida. Ele se embriagava dela, porque nela se perdia e esse era o seu refugio. Era boa a sensação de estar perdido. Na escuridão ela passou o trinco na porta e o estalo que a fechadura fez trincou a ampulheta do tempo. Quando fez isso, tinha o olhar fixo nele. Despiu-se num movimento rápido e na luz fraca do quarto o bico do seus seios poderia perfurá-lo. E ele a perfurava com os olhos, como se pudesse vencer o espaço entre eles e devorá-la, como se na verdade já tivesse começado a devorá-la naquele curto momento em que ela trancou a porta e trincou o tempo - seu braço sensualmente sobre a maçaneta e a boca entreaberta. Os olhos ardiam com desejo. Dali em diante nunca se sabe como o espaço vazio entre os dois indivíduos se supera tão rapidamente. Seus corpos, unidos, uivaram gritos arrepiantes que fizeram rodopiar no vento um convite silencioso para que o tempo parasse.
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