Desculpe, caro leitor,
A falta de textos por aqui
É que eu ando mais atrás de contextos
Pra procurar conversas
Que me preencham mais uma vez.
Muitas vezes chove naquela terra de ninguém. Chuva, tempestade, tormenta, raio, trovão. O povo se esconde, dentro das casas de pedra, e se põe a pensar. E como a tempestade nunca termina, o povo nunca para de pensar. E pensa. E os vizinhos daquela terra de ninguém não sabem que os pingos da chuva são idéias, e a terra fértil é a própria consciência.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
O hiato: os últimos rumores sobre vendedor e freguesa.
Foi-se a lua adversa,
Restaram só as sombras da noite.
Uma moedinha esquecida na fonte,
Algumas garrafas cheias de memória.
E uma delas vazia, a mais importante.
Além do coração na mesa.
Reinava o silêncio.
Pairava no ar uma pergunta:
Tudo vão,
Ou não
(?)
Restaram só as sombras da noite.
Uma moedinha esquecida na fonte,
Algumas garrafas cheias de memória.
E uma delas vazia, a mais importante.
Além do coração na mesa.
Reinava o silêncio.
Pairava no ar uma pergunta:
Tudo vão,
Ou não
(?)
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Dança sob um céu de diamantes
Faça eu desaparecer pelos anéis de fumaça da minha mente
Além das nebulosas ruínas do tempo, além das folhas congeladas,
além do assombro das árvores nessa praia e essas ventanias
Longe do alcance distorcido da tristeza insana
Sim,
Pra dançar sob um céu de diamantes com as mãos acenando livremente
Adornado pela luz da praia e os círculos de poeira pairando no vento
Com toda memória e o destino navegando para além das ondas
Deixe-me esquecer o hoje (e o ontem), só até amanhã.
Além das nebulosas ruínas do tempo, além das folhas congeladas,
além do assombro das árvores nessa praia e essas ventanias
Longe do alcance distorcido da tristeza insana
Sim,
Pra dançar sob um céu de diamantes com as mãos acenando livremente
Adornado pela luz da praia e os círculos de poeira pairando no vento
Com toda memória e o destino navegando para além das ondas
Deixe-me esquecer o hoje (e o ontem), só até amanhã.
domingo, 11 de janeiro de 2015
Onde as coisas começam e terminam
Sentado em frente a janela, admirava a paisagem. Com serena determinação mirava o sol poente no horizonte. Via o domingo se esvair, as mãos cruzadas sobre a mesa, olhando pela fresta dos dedos entrelaçados. Respirou fundo e separou as mãos. Mirou as palmas: não tremia, não chorava. Olhou a nesga de céu azul que restava e suspirou. Evocou um punhado de memórias e as queimou feito incenso, pra sentir o cheiro da saudade. Uma vez queimadas, as coisas não retornam a vida, ou era o que lhe haviam dito. Com uma outra parte das memórias fez um chá e o provou. Tinha um gosto amargo, quase intragável. O vinho lhe cabia melhor. Mas também já fazia tempo que sua vida não era doce e seu amor era vão, então aquilo realmente não importava. Deixou a caneca de lado e olhou a janela de novo. Entrelaçou os dedos e rangeu os dentes. Somado a tristeza típica do domingo, havia raiva também. Havia dor, mas pelo menos a ciência de que não havia dor maior do que a dor humana lhe confortava: era forte, afinal das contas. A luz do sol foi indo embora, e aos poucos a luz alaranjada da rua foi surgindo, e com ela as luzes das casas e prédios, como se uma luz no horizonte assinalasse a um comodo qualquer em outro ponto da cidade que era a hora de abrir os olhos, e magicamente a cidade se iluminava. Enfim, as luzes das casas, prédios e ruas foram se acendendo, como se roubassem a luz que vinha do céu. Seu pensamento vagueou por um conjunto de memórias, algumas que lhe restavam ali. Não verteu uma lágrima, afinal de contas. Suas fatídicas rotinas e estradas percorridas lhe asseguraram com um sibilar rodopiante no vento: "mantenha um estado transitório entre a partida e a chegada; economize em desfechos e introduções; viva rápido, mas não envelheça - conserva o espírito jovem e invencível, porque essa coisa de sagacidade pode ser uma estrada pra amargura; continua vivendo a tua poesia e procurando gente profunda pra se ancorar sem medo; releva a tua percepção do tempo, pra que o tempo pare e você continue jovem, se é isso que te angustia; e guarda com ternura as suas memórias, porque nem sempre se pode viver na ebriedade do futuro ou na amargura do presente". Coçou a barba, estalou a língua e apagou a luz.
sábado, 10 de janeiro de 2015
Masturbação mental
Parei um minuto pra ouvir o som das coisas silenciosas e rever o que estava escondido na escuridão. Não achei nada. Revirei um baú velho e estava tudo empoeirado, usado demais. Não havia nada com o que me segurar ao passado. Abateu-se sobre mim grande solidão. E que te livrem, caro leitor, dessa masturbação mental pela qual passei. É triste, depois de tudo, concluir que a lucidez realmente só nos visita depois da loucura. E, cacete, como é difícil pensar que é fácil viver de poesia e se dar conta de que nada disso é possível. Ela pode encantar, eu sei, mas seu preenchimento é tão vão quanto as palavras. É preciso poder apalpar a felicidade pra não se cair no vazio da ausência de perspectiva. E, porra, já me visita esse buraco de novo. É como um tiro no peito. Afinal, tinha que ter um lugar de onde sair tanta poesia. Há essa música na minha cabeça, de novo. Um verme do ouvido a me atormentar. Há uma voz tentando me dizer o que fazer, dizendo pra eu entender que tudo isso é vão como o tempo. Eu queria me desfazer com a chuva. Voar num foguete pra lua. Queria, de novo, ir embora daqui e recomeçar. Sei que isso pode ser só um texto meio ébrio, mas pelo menos o mundo parece ser mais real daqui. E de superficialidade eu já cansei. Até quem eu pensava ser profundo se escondeu sobre uma faixa e foi embora daqui. Porque são poucas as pessoas que falam sobre as coisas profundas, e vivem elas do jeito que elas devem ser vividas. É mais fácil se esconder sobre o véu das ilusões, desses sorrisos falsos e fotos bonitas. Sou de novo um bebê acorrentando num saco jogado na correnteza do rio. Meu autorretrato é de fato bêbado e confuso, como eu pensava. Mas eu justifico isso com prazer. Embriaga-te você também, caro leitor, e vê se o mundo embaçado e tropego não tem mais graça. Não seja um fraco de espirito. Tenha coragem. Ofusca a razão, porque eu sei que qualquer boa razão vai se opor a essa ideia maluca. E se ainda sim seus pés pestanejarem a abraçar a embriaguez, responde-me: qual o destino dos sóbrios? Qual o destino dos seres racionais e realistas, que senão a depressão? Qual o destino daquele que vive a vida sem se embriagar que senão a amargura de se dar conta da vulgaridade das coisas? Eu prefiro realmente estar bêbado e não entender nada à ter que refletir sobre essa miríade de possibilidades que aparecem quando estou sóbrio. Essa masturbação mental de nada me serve. Nela não há poesia, não há rima, não há beleza, não há música, não há verso. Só há saudade e perda. E não que eu ache que essas coisas são dispensáveis, mas quem vive só de saudade e perda está além dos limites da poesia e se encontra com a morte. É dor demais. E como dizem os sábios, não existe dor maior do que a dor humana. Então, como diz Baudelaire: embriaga-te. Abre mão dessa masturbação mental que é o pensar e entrega-te de uma vez ao vício. É melhor isso do que se entregar a morte, atirando-se ao canal, ou deixando-se levar pelo fantasma da loucura. "Embriaga-te! Para não ser como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te sem cessar! De vinho, poesia ou virtude, a teu gosto!".
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
(A)mar
A lua sobre o mar era um escudo prateado contra a escuridão profunda. O som das ondas era um compasso calmo, um ritmo lento que embalava, uma melodia triste, porém reconfortante, uma canção de dor e perda, mas também o sussurrar que fazia pairar no ar uma lembrança terna. A areia era um tapete liso pra se fazer derramar sensações. E lá estavam eles, sentados lado a lado, ninados pelo barulho do mar e banhados pela luz da lua. Constantemente o olhar deles se perdia no mar e nas luzes do horizonte, e com a mesma intensidade se encontravam um no outro ao virar para o lado e se dar conta de que estavam sendo contemplados. Aquela era a amalgama do sentimento profundo: perder-se e achar-se imediatamente, de modo reciproco. Qualquer pergunta se relevava. O silêncio que envolvia os dois, imersos em cálida contemplação, dizia mais sobre aquilo do que uma odisseia completa. Os corpos falavam, mesmo no silêncio. Depois de um beijo, num lento movimento as pernas se entrelaçaram e os braços se uniram. Eles sussurraram um contra o outro, um por sobre o outro, embalados no ritmo suave do mar, num vai e vem hipnotizante. E lentamente maré vazia foi virando maré cheia, o mar foi beijando a terra, envolvendo-a num abraço terno, como era o deles dois. E quanto mais fortes as ondas, mais rápido o ritmo deles dois. O vento frio já nem importava, porque o (a)mar que banhava os dois era quente.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Coincidências
Taca fogo na fabrica de chorar
Trás a lenha
Não venha com seu desaguar
Falta amor
Falta dia
Pra noite clarear
Então vai tristeza
E leva essa moça de casa
Que em casa não dá mais
Trás a lenha
Não venha com seu desaguar
Falta amor
Falta dia
Pra noite clarear
Então vai tristeza
E leva essa moça de casa
Que em casa não dá mais
Da bem-aventurança e da alegria
"É que da bem aventurança e da alegria na vida há pouco a ser dito enquanto duram; assim como as obras belas e maravilhosas, enquanto perduram para que os olhos as contemplem, são registros de si mesmas; e somente quando correm perigo ou são destruídas é que se transformam em poesia."
J.R.R Tolkien - O Silmarillion.
J.R.R Tolkien - O Silmarillion.
Morte fatídica
ATESTADO DE ÓBITO
Nome do sujeito: amor.
Causa da morte: visível desproporcionalidade entre as partes.
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Vinho, poesia, tempestade, tequila
Ela era vinho e poesia, mas sabia ser tempestade e tequila. Quando cansava-se da sobriedade, ele vertia uma taça dela e se perdia. Os olhos nitidamente se encontravam na meia luz e, ora, são os olhos as janelas da alma e as sombras de seus corpos projetadas na parede as portas pra embriaguez plena. Ela gostava da sensação de perder e o controle, e a perdia mais por ele do que propriamente pela bebida. Ele se embriagava dela, porque nela se perdia e esse era o seu refugio. Era boa a sensação de estar perdido. Na escuridão ela passou o trinco na porta e o estalo que a fechadura fez trincou a ampulheta do tempo. Quando fez isso, tinha o olhar fixo nele. Despiu-se num movimento rápido e na luz fraca do quarto o bico do seus seios poderia perfurá-lo. E ele a perfurava com os olhos, como se pudesse vencer o espaço entre eles e devorá-la, como se na verdade já tivesse começado a devorá-la naquele curto momento em que ela trancou a porta e trincou o tempo - seu braço sensualmente sobre a maçaneta e a boca entreaberta. Os olhos ardiam com desejo. Dali em diante nunca se sabe como o espaço vazio entre os dois indivíduos se supera tão rapidamente. Seus corpos, unidos, uivaram gritos arrepiantes que fizeram rodopiar no vento um convite silencioso para que o tempo parasse.
Diálogo dos dois diabos
Embrutece, pois, a alma, diz um.
E empedra também o coração
Não perdes a ternura!, diz o outro
Passaste tempos demais no abismo, responde o primeiro,
Suspirando poesias e saudades. Era a hora, mas preferiu-se entender que não agora.
Estás cansado e nu na areia, de novo, diz o segundo
De peito aperto, mais uma vez seu amor é vão.
Mas podes dormir, beber, sonhar, fazer disso poesia.
Já faz tempo que essa dança não termina, cospe o primeiro
Suas pernas doem e só doem menos que o coração
Há um corte no fundo da alma. Uma saudade, uma raiva, uma dor,
E ora, não existe dor maior do que a dor humana, continua.
Não embrutece, canta o outro, de novo.
Não empedra
Terno permanece
Não espera.
Cresce.
(Silêncio)
E empedra também o coração
Não perdes a ternura!, diz o outro
Passaste tempos demais no abismo, responde o primeiro,
Suspirando poesias e saudades. Era a hora, mas preferiu-se entender que não agora.
Estás cansado e nu na areia, de novo, diz o segundo
De peito aperto, mais uma vez seu amor é vão.
Mas podes dormir, beber, sonhar, fazer disso poesia.
Já faz tempo que essa dança não termina, cospe o primeiro
Suas pernas doem e só doem menos que o coração
Há um corte no fundo da alma. Uma saudade, uma raiva, uma dor,
E ora, não existe dor maior do que a dor humana, continua.
Não embrutece, canta o outro, de novo.
Não empedra
Terno permanece
Não espera.
Cresce.
(Silêncio)
Blues da sacanagem
Tenho o desejo de dançar contigo um lento blues, pra vagarosamente te beijar, te despir e nos amarmos de modo bêbado, desesperado, violento, poético. Rapidamente nossa dança seria tão bela que de nossos corpos sairiam sons e não haveria música tão profunda quanto a de nós dois.
Assinar:
Postagens (Atom)