Muitas vezes chove naquela terra de ninguém. Chuva, tempestade, tormenta, raio, trovão. O povo se esconde, dentro das casas de pedra, e se põe a pensar. E como a tempestade nunca termina, o povo nunca para de pensar. E pensa. E os vizinhos daquela terra de ninguém não sabem que os pingos da chuva são idéias, e a terra fértil é a própria consciência.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
O destino das folhas
Sempre que a brisa é forte as folhas da árvore dançam, embaladas num ritmo suave. Normalmente frágeis, elas caem no chão ao serem embaladas. A queda é lenta e harmoniosa. Devagar as folhas pairam sob o ar, como se resistissem a queda de inicio, mas logo aceitam e se rendem ao destino iminente. Depois de viver a queda, chegam ao chão. Chegar ao chão é duro. Chega-se ao chão depois de muito tempo, mas sempre há a sensação de que chegou-se ali muito rápido. O gosto do chão é ruim. Tão amargo quanto o gosto do desgosto. Ao chegar no chão, a lembrança da queda é sempre iminente. As folhas, ao fim da queda, se desfazem. Retornam à terra. E pro tempo futuro deixam de existir. É, na verdade, como se nunca tivessem existido. Depois o tempo passa e sopra a pilha de folhas mortas no chão, carregando um punhado pra longe. Cada dia um punhado. Como se quisesse levar todas as folhas dali e deixar só aquele vazio que resta da queda.
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