quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Espera

Já passou da hora de você chegar
E eu ainda estou te esperando
Não há luz, nem cor, nem cheiro, nem música. Não há paz.
Eu não estou bêbado, já vai dar meia noite
Tic-tac: o relógio me lembra como o tempo é fugaz.
Essa espera angustia
Já vai dar uma,
Estou no mesmo lugar.
Esse silêncio que corta
A retina da rotina, dói.
Neste dia ensolarado
de manhã aveludada
Pintei um desejo no céu azul
Em meio aos sons aturdidos dessa cidade
Sussurrei os sonhos febris
Sonhados no calor do verão
São quase duas
E eu ainda sinto o gosto
Ainda há um sorriso
Um desejo escondido
Uma vontade de parar o tempo
Naquele momento.
Estou nu, mais uma vez
De peito aberto, uma vez mais
Meu coração numa bandeja.
Aquela carta numa caixa
É tarde, não vejo nada da janela
Queria ver o sol de novo com você.
Procuro nesses desencontros
Os nossos encontros
Nossas confissões, ditas suavemente,
Os nossos desejos,
Escondidos á meia luz
E me pergunto
O que vai ser disso aqui?
Vai dar três
E eu vou me render
Ás sombras
Dessa solidão. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Lembrete

Se tudo der errado, procure-me do mesmo jeito que tudo começou.
E eu vou saber que é a hora de fazer as coisas certas.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Tipo

Você é do tipo que faz um X na minha mente e diz "decifra-me, ou te devoro".
E mesmo que eu te decifrasse, você teria várias outras letras com as quais ocupar a gangorra da minha mente.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Ohrwurm

Estou de novo neste lugar onde os ventos sopram de uma maneira poética. Estou de novo encarando essa árvore cujas folhas secas ainda caem. Estou de novo olhando as folhas secas caírem, e se amontoarem no chão tão cheias de dor e arrependimento de terem ousado a dor da queda. Estou de novo embriagado debaixo dessa meia luz. Estou de novo desejando escutar essa música em um volume tão alto que faça meu ouvidos explodirem e eu não escute mais o que essa gente fale.

Canção de desgosto

Queria arrancar essa dor do peito,
como se pudesse arrancar a própria carne.
Um tiro no peito, vários remédios.
Lançar-me ao sol, bem de perto
queimar-me por inteiro.
Livrar-me da sombra,
Que insiste em me abraçar.
Quero cavar um buraco no chão
E enterrar essas coisas lá.
Ou voar pra dez mil milhas daqui
Pra recomeçar.
Espero ver mais coragem
Em outros rostos
Sentir outro gosto
que não o desgosto.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Máxima

Bom mesmo é nascer burro, permanecer ignorante e morrer de repente.

O destino das folhas

Sempre que a brisa é forte as folhas da árvore dançam, embaladas num ritmo suave. Normalmente frágeis, elas caem no chão ao serem embaladas. A queda é lenta e harmoniosa. Devagar as folhas pairam sob o ar, como se resistissem a queda de inicio, mas logo aceitam e se rendem ao destino iminente. Depois de viver a queda, chegam ao chão. Chegar ao chão é duro. Chega-se ao chão depois de muito tempo, mas sempre há a sensação de que chegou-se ali muito rápido. O gosto do chão é ruim. Tão amargo quanto o gosto do desgosto. Ao chegar no chão, a lembrança da queda é sempre iminente. As folhas, ao fim da queda, se desfazem. Retornam à terra. E pro tempo futuro deixam de existir. É, na verdade, como se nunca tivessem existido. Depois o tempo passa e sopra a pilha de folhas mortas no chão, carregando um punhado pra longe. Cada dia um punhado. Como se quisesse levar todas as folhas dali e deixar só aquele vazio que resta da queda.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O diálogo do palhaço triste e da bailarina que tinha feito ele feliz


"É tão clichê tudo isso."
"Isso o que?"
"De ajudar os outros e não ajudar a si mesmo"
"É mais fácil ver as coisas de fora da caixa"
"É, poeta? Me diz você ..."
"Eu não: sou só fingidor"
"Porque você escolheu ser assim?"
"Eu escolhi? Não lembro de ter escolhido"
"O que você faz pra ser feliz?"
"Não faço, não sou"