Nu, de novo, as feridas abertas.
Mais uma vez está de peito aperto.
Está sentado na rua, desolado,
banhado pela luz alaranjada
daquela cidade imunda.
Está frustrado,
de novo,
cansado de vagar a esmo.
O tempo é muito vagaroso:
ouve-se uma pergunta tímida
- "até quando?" -,
mas não há resposta que tranquilize
não existem palavras
além das que se quer ouvir
que podem mudar aquilo.
Está com raiva, de novo
a cinzenta canção de dor e perda se transforma mais uma vez num brado de ódio
nele engasga toda angústia,
todo desejo de mudança,
toda frustração da estar no mesmo lugar a tanto tempo.
Nele engasga a falta de perspectiva,
o desespero, o cansaço de tentar e errar e repetir esse processo infinitamente.
Nele está o sentimento de mal irremediável:
tenta relutar em aceitar o fato, mas segue e termina como está.
Nele está a agonia de não perceber as coisas escondidas á meia luz,
mas de enxergar os espaços na poesia social
e não conseguir ocupá-los.
Sobre ele paira a ausência, na forma de uma sombra escura.
Mas o brado é silencioso.
Habita os escombros de uma mente nebulosa
e é como um sentimento adormecido,
que ora desperta e preenche
e ora adormece e reconforta.
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