Muitas vezes chove naquela terra de ninguém. Chuva, tempestade, tormenta, raio, trovão. O povo se esconde, dentro das casas de pedra, e se põe a pensar. E como a tempestade nunca termina, o povo nunca para de pensar. E pensa. E os vizinhos daquela terra de ninguém não sabem que os pingos da chuva são idéias, e a terra fértil é a própria consciência.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Chuva
Havia um punhado de textos que deveriam ter sido escritos no vapor no espelho, mas água morna não embaça vidro, e os versos tão bonitos foram perdidos. Escorreram pelo ralo como mentiras tão bem feitas e se perderam num esgoto imundo, nebuloso como os escombros de uma mente atormentada. Quando os versos tão bonitos tentaram ser resgatados formaram um texto troncho. Da neblina fez-se chuva. E choveu, de novo. Mas chove sempre nos jardins de uma mente nebulosa. Peneira uma chuvinha fina, daquelas que não molha. E ao mesmo tempo daquelas que é suficiente pra fazer desaguar no oceano a melancolia desses dias cinzentos. Tão rápido ela faz-se tempestade e traga pra dentro de si todo o céu azul que desperta a manhã. A chuva silencia o barulho. E é o barulho que liga a gente ao mundo. Ele atesta existência. Quando o barulho vira música, há de haver felicidade. Mas com essa chuva eu nada posso ouvir.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário