Muitas vezes chove naquela terra de ninguém. Chuva, tempestade, tormenta, raio, trovão. O povo se esconde, dentro das casas de pedra, e se põe a pensar. E como a tempestade nunca termina, o povo nunca para de pensar. E pensa. E os vizinhos daquela terra de ninguém não sabem que os pingos da chuva são idéias, e a terra fértil é a própria consciência.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Silenciosa cólera
O papel branco fita o pincel, malandro
E o convida pra dançar
não saem textos dessa folha em branco.
Há uma melodia,
Que esconde a cólera consigo
Mas esses acordes não combinam,
São tronchos, e ela já não faz mais sentido
Há esse silêncio, agora
Da quimera de sonhos, jogada no asilo
Pra rolar alguns dados e esperar a sorte
Guardar desejos em sigilo
Há esse desejo, que tenta,
em vão,
Empurrar pra fora palavras não ditas
O grito está preso na garganta
Engasga e golfa
Se debate e luta
Está em cólera
E esse silêncio corta.
E o convida pra dançar
não saem textos dessa folha em branco.
Há uma melodia,
Que esconde a cólera consigo
Mas esses acordes não combinam,
São tronchos, e ela já não faz mais sentido
Há esse silêncio, agora
Da quimera de sonhos, jogada no asilo
Pra rolar alguns dados e esperar a sorte
Guardar desejos em sigilo
Há esse desejo, que tenta,
em vão,
Empurrar pra fora palavras não ditas
O grito está preso na garganta
Engasga e golfa
Se debate e luta
Está em cólera
E esse silêncio corta.
domingo, 26 de outubro de 2014
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Último
eu olho e nada vejo, meus olhos só vagueiam
te procuro, mas não acho, e me perco
amo, e em silêncio frustrado encolerizo e quebro o espelho
e só o que me resta já não me basta
sabia que isso seria uma ironia: teria que juntar esses cacos,
que o espelho se partiria em mil pedaços
seria melhor, talvez, ter guardado tudo numa garrafa e jogado fora
assim, como quem não quer nada
do mesmo modo que as minhas perguntas são ignoradas
jeito não tenho a dar
mais e mais quero jogar tudo fora nessas águas negras, neste mar
profundo e desconhecido.
te procuro, mas não acho, e me perco
amo, e em silêncio frustrado encolerizo e quebro o espelho
e só o que me resta já não me basta
sabia que isso seria uma ironia: teria que juntar esses cacos,
que o espelho se partiria em mil pedaços
seria melhor, talvez, ter guardado tudo numa garrafa e jogado fora
assim, como quem não quer nada
do mesmo modo que as minhas perguntas são ignoradas
jeito não tenho a dar
mais e mais quero jogar tudo fora nessas águas negras, neste mar
profundo e desconhecido.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Chuva
Havia um punhado de textos que deveriam ter sido escritos no vapor no espelho, mas água morna não embaça vidro, e os versos tão bonitos foram perdidos. Escorreram pelo ralo como mentiras tão bem feitas e se perderam num esgoto imundo, nebuloso como os escombros de uma mente atormentada. Quando os versos tão bonitos tentaram ser resgatados formaram um texto troncho. Da neblina fez-se chuva. E choveu, de novo. Mas chove sempre nos jardins de uma mente nebulosa. Peneira uma chuvinha fina, daquelas que não molha. E ao mesmo tempo daquelas que é suficiente pra fazer desaguar no oceano a melancolia desses dias cinzentos. Tão rápido ela faz-se tempestade e traga pra dentro de si todo o céu azul que desperta a manhã. A chuva silencia o barulho. E é o barulho que liga a gente ao mundo. Ele atesta existência. Quando o barulho vira música, há de haver felicidade. Mas com essa chuva eu nada posso ouvir.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Tempo
Faz tempo que o sol não jorra da janela. Faz tempo que não chove e é frio do lado de fora. Faz tempo que a casca da árvore cresce e a floresta adormece. Faz tempo que a fumaça do cigarro queima e ele não apaga. Faz tempo que esse cheiro toma conta da casa e ninguém sente. Faz tempo que a tristeza é um colar e faz tempo que ela é uma corrente. Faz tempo que as palavras não são ditas. Faz tempo que a falta é sentida. Faz tempo que a cidade não é mais tão bonita, faz tempo que as coisas fazem sentido. Faz tempo que a esperança está doente e faz tempo que ninguém sabe se ela vai se recuperar. Faz tempo que os males são irremediáveis e faz tempo que tenta-se negar isso. Faz tempo que tem-se dado tempo ao tempo e faz tempo que o conselho deixou de servir. Faz tempo que as tentativas são frustradas. Faz tempo que faz tempo tudo isso. O tempo faz o tempo. O tempo faz com que a janela fique fechada. O tempo faz com que só faça sol e seja quente. O tempo faz com que a floresta adormeça. O tempo faz com que o cheiro seja imperceptível. O tempo faz com que a tristeza passe. O tempo faz com que a tristeza volte. O tempo faz com que as palavras não saiam da boca. O tempo faz sentir falta. O tempo faz com que a cidade seja feia. O tempo faz com que as coisas não tenham sentido. O tempo adoece a esperança e faz com que ninguém saiba da sua saúde. O tempo não remedia o mal, e se o tempo não remedia o mal, nada mais remedia. O tempo faz com que o tempo não tenha tempo e que os conselhos se desgastem. O tempo faz tempo todo tempo. O tempo fecha a janela. Faz tempo que todo o meu amor é vão. O tempo faz que todo meu amor é vão. Vão faz o tempo e todo o meu amor. O meu amor é vão e faz o tempo. Vão, oh meu amor, é o tempo. Faz tempo.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
O brado de ódio
Nu, de novo, as feridas abertas.
Mais uma vez está de peito aperto.
Está sentado na rua, desolado,
banhado pela luz alaranjada
daquela cidade imunda.
Está frustrado,
de novo,
cansado de vagar a esmo.
O tempo é muito vagaroso:
ouve-se uma pergunta tímida
- "até quando?" -,
mas não há resposta que tranquilize
não existem palavras
além das que se quer ouvir
que podem mudar aquilo.
Está com raiva, de novo
a cinzenta canção de dor e perda se transforma mais uma vez num brado de ódio
nele engasga toda angústia,
todo desejo de mudança,
toda frustração da estar no mesmo lugar a tanto tempo.
Nele engasga a falta de perspectiva,
o desespero, o cansaço de tentar e errar e repetir esse processo infinitamente.
Nele está o sentimento de mal irremediável:
tenta relutar em aceitar o fato, mas segue e termina como está.
Nele está a agonia de não perceber as coisas escondidas á meia luz,
mas de enxergar os espaços na poesia social
e não conseguir ocupá-los.
Sobre ele paira a ausência, na forma de uma sombra escura.
Mas o brado é silencioso.
Habita os escombros de uma mente nebulosa
e é como um sentimento adormecido,
que ora desperta e preenche
e ora adormece e reconforta.
Mais uma vez está de peito aperto.
Está sentado na rua, desolado,
banhado pela luz alaranjada
daquela cidade imunda.
Está frustrado,
de novo,
cansado de vagar a esmo.
O tempo é muito vagaroso:
ouve-se uma pergunta tímida
- "até quando?" -,
mas não há resposta que tranquilize
não existem palavras
além das que se quer ouvir
que podem mudar aquilo.
Está com raiva, de novo
a cinzenta canção de dor e perda se transforma mais uma vez num brado de ódio
nele engasga toda angústia,
todo desejo de mudança,
toda frustração da estar no mesmo lugar a tanto tempo.
Nele engasga a falta de perspectiva,
o desespero, o cansaço de tentar e errar e repetir esse processo infinitamente.
Nele está o sentimento de mal irremediável:
tenta relutar em aceitar o fato, mas segue e termina como está.
Nele está a agonia de não perceber as coisas escondidas á meia luz,
mas de enxergar os espaços na poesia social
e não conseguir ocupá-los.
Sobre ele paira a ausência, na forma de uma sombra escura.
Mas o brado é silencioso.
Habita os escombros de uma mente nebulosa
e é como um sentimento adormecido,
que ora desperta e preenche
e ora adormece e reconforta.
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