Muitas vezes chove naquela terra de ninguém. Chuva, tempestade, tormenta, raio, trovão. O povo se esconde, dentro das casas de pedra, e se põe a pensar. E como a tempestade nunca termina, o povo nunca para de pensar. E pensa. E os vizinhos daquela terra de ninguém não sabem que os pingos da chuva são idéias, e a terra fértil é a própria consciência.
domingo, 15 de dezembro de 2013
Um segundo é um segundo
Paredes cinzentas me separam do mundo externo. Estou preso. Penso, mas não consigo chegar a uma conclusão nítida. Dentro desta cela o mundo está desbotado e borrado. Não vejo, não cheiro, não ouço, não sinto. Nada. Pensamentos involuntários preenchem minha mente. Fazem-me pensar o que não quero pensar. Quebram o equilíbrio. Tento escrever o que sinto, mas sempre volto a folha em branco. Minha percepção está abalada, e ela já não me serve dentro desta cela. Vejo uma janela quadrada a uma altura maior que eu. Sua existência se justifica somente para me frustrar. Tento me esticar para ver o mundo, mas só vejo o borrão cinza a minha volta. Isso não vai a lugar nenhum, eu sei. É inútil. Só posso esperar as paredes caírem. Mas quando vão cair? Não posso esperar a eternidade. Não tenho tempo. O tempo é o senhor das coisas, e ele está correndo. Está correndo mais devagar dentro desta cela. Ah, como eu queria que o tempo passasse dessa maneira tão lenta quando ele inevitavelmente passa mais rápido, em outras situações. Mas eu não sou o senhor do tempo. O tempo é o senhor das coisas e ele quem decide a intensidade com a qual passa. O que eu estou dizendo, afinal? O tempo passa da mesma maneira sempre. Tic, tac, tic, tac. Um segundo é um segundo, e ele não pode ser menor ou maior em qualquer outro lugar. Um segundo são mil milésimos de segundo. Um milésimo de segundo são mil microsegundos, e um microsegundo são mil nanosegundos, e um nanosegundo são mil picosegundos, e um picosegundo são mil femtasegundos. E a medida que passo pensando nisso estou gastando bilhões e bilhões e bilhões de femtasegundos. Oh, mas não posso evitar. Estou nessa prisão, afinal. Como vou me libertar? Vou ter que esperar um bilhão de bilhões de femtasegundos aqui. Até passar. E é por isso que o tempo é o senhor das coisas. Porque, de fato, "não há bem que nunca acabe nem mal que dure para sempre". É só o passar do tempo que cura as coisas. E um segundo é um segundo. Aqui ou em qualquer lugar. Pronto. Já perdi mais bilhões de bilhões de femtasegundos.
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