segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sobre a natureza das coisas

Vejo uma profusão de luzes que mudam conforme o que se passa a minha volta. Gestos, tons, emoções, movimentos. Tudo muda as cores e os padrões. Um grito, e tudo é rasgado em mil pedaços. Um murmurio e as luzes tremem. Um passo, e as luzes se arrastam, rastejando por entre os escombros da minha mente. Me concentro. Tento descobrir a natureza das coisas, as respostas ocultas em algum lugar. Vasculho minhas idéias e...
E as luzes se apagam.
Nada.
Tudo sumiu.
Sumiu assim que tentei evocar as imagens das minhas ideias.
Tento novamente.
Penso sobre estar pensando, e uma janela se abre.
Da janela vejo outra janela, e então outra, e outra, e outra, e mais outra. Paro de pensar. As luzes voltam. Penso sobre parar de pensar, e as luzes se apagam. Interrompo tudo. As luzes voltam.
Alguém fala, e as luzes reagem, se rearrumam misteriosamente, e agora giram conforme a música. O compasso se altera, e as luzes acompanham. Giram, se arrastam, rasgam o fundo negro por trás delas.
Me concentro nas luzes. E elas se apagam. Somem da minha vista, como o acordar de um sonho."Por que? Por que não posso mais vê-las?" Indago. E as luzes não voltam.
Espero. E elas voltam, enfim.
"Porque as coisas são tão confusas?" Penso. E as luzes somem. Como esperado.
E se não forem as coisas, e sim a minha mente?
E se as ideias fossem, na verdade, não a síntese, mas o limite das coisas?
Por que, necessariamente, devemos pensar que podemos definir tudo que está a nossa volta?
As coisas podem ser infinitas e, na incapacidade de vislumbrá-las por inteiro, criamos as idéias. Dessa forma, as idéias seriam não as coisas em si, mas o complemento das coisas. E, nesse caso, ter-se-ia por "complemento" não uma adição, mas uma limitação. As idéias prendem as coisas no mundo tangível, e nada impede que as pessoas vejam as mesmas coisas - que são infinitas - de formas diferentes, mas as tratem pela mesma coisa porque a ideia é a mesma. Para vislumbrar as coisas por inteiro deveríamos, então, abrir mão das idéias e ver as coisas como elas realmente são: infinitas.

"Se as portas da percepção estivessem abertas, todas as coisas apareceriam aos homens tal como são: infinitas" - William Blake.

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