Uma luz fraca ilumina uma parede. Luz amarela, cor de sol. Contra ela uma sombra dança o reflexo de uma menina. Dela não vejo nada além da silhueta escura, e quando desvio os olhos vejo somente seu par - a sombra - contra a parede, a repetir seus movimentos de maneira perfeita. Minha curiosidade desponta no desejo de saber quem é a dançarina, mas é inútil. Seus movimentos se repetem em uma cadência confortável e graciosa, como se fossem detalhadamente pensados, refletidos, calculados e testados antes que fossem feitos.
Abaixo a cabeça e vejo um chão de madeira.
Vigas envernizadas que se abrem e me engolem como uma escada em espiral.
A menina vem junto, caindo pela escada, mas não vejo seu rosto. Pelo contrário - ela some. E a escada encolhe e me joga para longe.
Vou me distanciando, involuntariamente, descendo a escada em espiral que volta a se abrir.
A imagem se distorce, trêmula. Se parte em mil pedaços que se espalham em um espaço-tempo aleatório.
E há uma música. Há uma música escrita no chão. Mas não posso ler a música. É a maldita única peça faltante em um quebra cabeça que destrói toda imagem. Insubstituível. Insubstituível porque um dia ela esteve lá, ou quase, na mente ou na realidade.
Ou na mente e na realidade.
Porque não não posso ler essa música?
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