Disposto o papel em branco traço retas linhas, feições.
Construo, desfaço, refaço
E despedaço
Minha ávida e incessante procura pelas perfeições.
Muitas vezes chove naquela terra de ninguém. Chuva, tempestade, tormenta, raio, trovão. O povo se esconde, dentro das casas de pedra, e se põe a pensar. E como a tempestade nunca termina, o povo nunca para de pensar. E pensa. E os vizinhos daquela terra de ninguém não sabem que os pingos da chuva são idéias, e a terra fértil é a própria consciência.
segunda-feira, 31 de março de 2014
domingo, 30 de março de 2014
Desejo
Se,
eu pudesse recomeçar
a milhões de milhas daqui
eu
poderia
me encontrar.
eu acharia um caminho.
eu pudesse recomeçar
a milhões de milhas daqui
eu
poderia
me encontrar.
eu acharia um caminho.
sábado, 29 de março de 2014
Sinestesia
Eu não diria que os olhos dela são de cigana, oblíquos e dissimulados porque isso seria não somente um clichê como também uma inverdade. Devo dizer que os olhos dela não são nem um pouco dissimulados. São olhos sinceros. Tão profundos que parecem tragar o mundo para dentro de si e transformar tudo em um brilho translúcido. Por onde passa ela deixa o ressoar de sua presença: uma música com sabor de felicidade. Seu sorriso tem um gosto doce. E as curvas do seu corpo são pura poesia. Só o mero pensamento é tão inebriante quanto vinho. E enlouquecedor, como absinto.
quarta-feira, 19 de março de 2014
...
Há um homem vagando pelas ruas escrevendo num livro de papel surrado canções sobre a vida.
Ele canta canções de felicidade que aos ouvidos dos outros parecem cantilenas de tristeza.
E assim adormecem suas histórias de primavera, morrendo aos poucos como a luz de um dia quente de verão.
Existe inspiração além da tristeza? Ele se pergunta.
E o silêncio responde, pairando sobre o ar.
Será um sim, ou um não?
Ele canta canções de felicidade que aos ouvidos dos outros parecem cantilenas de tristeza.
E assim adormecem suas histórias de primavera, morrendo aos poucos como a luz de um dia quente de verão.
Existe inspiração além da tristeza? Ele se pergunta.
E o silêncio responde, pairando sobre o ar.
Será um sim, ou um não?
quinta-feira, 6 de março de 2014
Porque não posso entender a vida
Uma luz fraca ilumina uma parede. Luz amarela, cor de sol. Contra ela uma sombra dança o reflexo de uma menina. Dela não vejo nada além da silhueta escura, e quando desvio os olhos vejo somente seu par - a sombra - contra a parede, a repetir seus movimentos de maneira perfeita. Minha curiosidade desponta no desejo de saber quem é a dançarina, mas é inútil. Seus movimentos se repetem em uma cadência confortável e graciosa, como se fossem detalhadamente pensados, refletidos, calculados e testados antes que fossem feitos.
Abaixo a cabeça e vejo um chão de madeira.
Vigas envernizadas que se abrem e me engolem como uma escada em espiral.
A menina vem junto, caindo pela escada, mas não vejo seu rosto. Pelo contrário - ela some. E a escada encolhe e me joga para longe.
Vou me distanciando, involuntariamente, descendo a escada em espiral que volta a se abrir.
A imagem se distorce, trêmula. Se parte em mil pedaços que se espalham em um espaço-tempo aleatório.
E há uma música. Há uma música escrita no chão. Mas não posso ler a música. É a maldita única peça faltante em um quebra cabeça que destrói toda imagem. Insubstituível. Insubstituível porque um dia ela esteve lá, ou quase, na mente ou na realidade.
Ou na mente e na realidade.
Porque não não posso ler essa música?
Abaixo a cabeça e vejo um chão de madeira.
Vigas envernizadas que se abrem e me engolem como uma escada em espiral.
A menina vem junto, caindo pela escada, mas não vejo seu rosto. Pelo contrário - ela some. E a escada encolhe e me joga para longe.
Vou me distanciando, involuntariamente, descendo a escada em espiral que volta a se abrir.
A imagem se distorce, trêmula. Se parte em mil pedaços que se espalham em um espaço-tempo aleatório.
E há uma música. Há uma música escrita no chão. Mas não posso ler a música. É a maldita única peça faltante em um quebra cabeça que destrói toda imagem. Insubstituível. Insubstituível porque um dia ela esteve lá, ou quase, na mente ou na realidade.
Ou na mente e na realidade.
Porque não não posso ler essa música?
Quanto tempo?
e eis que do papel queimado sobrou apenas aquela palavra solitária escrita em letras garrafais
NENHUM
Felicidade
naquela escuridão,
te vi
e vivi
e concluí
que a felicidade não é nada
além da ausência da percepção de que as coisas sempre acabam
e na profunda escuridão fiquei por longo tempo, pensando, temendo
te vi
e vivi
e concluí
que a felicidade não é nada
além da ausência da percepção de que as coisas sempre acabam
e na profunda escuridão fiquei por longo tempo, pensando, temendo
sonhando sonhos que nenhum mortal jamais sonhou
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